Como já vimos neste post (clique aqui para ler), a bandagem elástica funcional também é indicada em casos de AVC.
Mas quando usar? Vamos conversar um pouco sobre isso?
Então, continue lendo até o fim para saber tudo!
Bandagem funcional para AVC: paralisia facial
Certa vez me perguntaram sobre um paciente pós AVC de hemisfério esquerdo e sequela motora à direta, consequentemente com paralisia facial central direita e escape de ar por comissura labial direita. Então, questionaram-me: posso colocar bandagem neste caso?
Deve! Respondi que deve usar! Tanto em orbicular da boca, por ser um músculo ímpar, quanto do lado paralisado.
Outro ponto importante a ser analisado neste caso é se a lesão está na fase aguda ou crônica, ou seja, se já tem sequelas ou não. Caso ainda não tenham sido instaladas sequelas você realiza a aplicação do lado paralisado para auxiliar na coordenação motora oral; e caso já tenha sequela você fará a aplicação em ambos os lados.
Falarei disso à frente.
Caso específico de bandagem funcional em paciente com AVC
Certa semana, chegou lá no Hospital São Julião, onde eu trabalho, um paciente que havia sofrido um AVC há 10 anos. Dez anos acamado e disártrico! Nunca havia feito fonoterapia, mas comia de tudo por boca, e falava, mas com uma disartria leve.
Ele pegou covid e foi para o hospital reabilitar.
Como disseram que ele comia de tudo, eu fui lá, ver ele comendo. Eu, observando, vi que ele acumulava alimento em vestíbulo, mas conseguia retirar a estase com a língua.
Além disso, na hora que ele conversava comigo, eu via um desvio de rima importante, uma disartria significante.
Quando eu terminei de avaliá-lo, coloquei a bandagem funcional.
O resultado da bandagem funcional para este paciente com AVC
Coloquei a bandagem em bucinador, em orbicular dos lábios.
É uma pena que eu não possa mostrar nas redes sociais o vídeo desse paciente do antes e depois. A bandagem organizou absurdamente a fala dele!
Ele falou pra mim: “Doutora, eu estou falando melhor!”
Que lindo!!
Conclusão desse caso
Assim, uma bandagem bem aplicada, com corte, tensão e local corretos, é capaz de organizar as funções orais do paciente gerando efeito imediato. Porque você dá aquele suporte que o músculo precisa para organizar a função.
Por isso que eu sou encantada, de verdade, com os resultados que a bandagem nos proporciona na clínica, tanto nos casos de reabilitação quanto dos casos que já tem sequela.
Devo fazer a aplicação em qual lado da paralisia facial?
Na paralisia facial, nós temos que pensar que na fase da sequela devemos utilizar uma aplicação para inibição do lado bom. Nós temos que inibir porque aquela musculatura está com tanta contratura que você precisa utilizar a bandagem, inclusive, para o lado que não é paralisado, pois ele está trabalhando em demasia.
Então, você vai organizar e estimular o lado afetado, que está com desvio de rima ou com comprometimento de mobilidade. Você vai usar a bandagem visando contrair e favorecer.
Já para o outro lado, que não está paralisado, mas que pode estar em sobrecarga, você vai para o raciocínio da inibição e, muitas vezes, você vai utilizar inclusive o mesmo corte. Mas o que vai mudar? O sentido da força reativa da bandagem.
Esse raciocínio depende, muitas vezes, de uma boa formação na técnica, para você aprender que poderá utilizar o mesmo corte para diferentes objetivos. Colocar o ponto de contato inicial na origem ou inserção do músculo muda tudo, muda completamente o objetivo.
Bandagem funcional para paralisia bulbar progressiva
Também me perguntaram se eu, Camila, utilizo bandagem em pacientes com paralisia bulbar progressiva. Já me questionaram se a bandagem não poderia gerar fadiga muscular.
E eu, com toda certeza, digo que não, a bandagem não gera fadiga e eu uso bandagem nesses casos sim.
O que é contraindicado em casos de esclerose lateral amiotrófica? É contraindicado tudo o que é disfuncional, que você faz além do funcional, certo?
Fora que, quando eles estão muito avançados, a bandagem auxiliará a “segurar” e organizar as estruturas orofaciais, dando maior conforto ao paciente.
Então, por isso, é uma grande indicação nesses casos para mim.
O melhor lugar para a colocação da bandagem funcional para paciente pós AVC com sialorreia
Neste mesmo dia, me perguntaram isto: qual é o melhor lugar para a colocação da bandagem funcional para paciente pós AVC com sialorreia? Eu respondi o seguinte:
Depende de cada caso, mas a aplicação escolhida será a que gera maior organização oral e consequentemente potencializa a função de deglutição. Precisamos pensar assim: uma aplicação correta vai diminuir a sialorreia, mas o que faz melhorar de fato? A frequência de deglutição. Assim duas aplicações que geram bom resultado são: orbicular de lábios e milo-hiódeo.
A bandagem age sobre as glândulas salivares?
A bandagem não age sobre as glândulas salivares. Sua ação será na musculatura envolvida no processo de deglutição. Imagine, com uma aplicação em orbicular de lábios você pressuriza uma das válvulas mais importantes de todo o processo de deglutição. Também é possível aumentar a frequência de deglutição com uma aplicação triangular em milo-hióideo, onde você pega toda a musculatura supra-hióidea, como esta:
Você está imputando, o tempo todo mandando estímulo para o sistema nervoso central, e consequentemente terá uma resposta.
Por que a melhora a sialorreia, então?
Vamos pensar assim: se você tem o hábito de usar anel e o coloca no seu dedo, você não vai ficar o tempo todo mexendo o dedo até acostumar? Pois bem, com a bandagem acontece a mesma coisa.
Tem um estímulo ali sendo mandado o tempo todo para o sistema nervoso central. E assim, você acaba deglutindo.
Isso dá a impressão de melhora da sialorreia, mas, na verdade, é porque melhora a função.
Onde posso aprender mais sobre isso?
Siga-me no Instagram, Motility Oral (@motilityoral), para saber mais sobre bandagem. porque estou sempre falando sobre isso por lá! Portanto, fique por dentro!